sexta-feira, 5 de junho de 2009

Reflexões sobre Igreja e Modernidade de Irmao Glecimar SCJ

Uma questão de Simpatia mútua...

A relação entre a modernidade e a Igreja, antes ser marcada por uma atitude de hostilidade, deveria ser contemplada a partir de uma indiferença peculiar entre as duas partes em questão. De fato, nos primórdios do fenômeno moderno, a Igreja adota uma postura defensiva frente aos questionamentos lançados pela modernidade que, de alguma maneira tocava e ainda toca dogmas e o magistério da Santa Sé.

Com o Papa João XXIII surgem as primeiras nuances de uma Igreja aberta ao diálogo com o fenômeno moderno. No Concílio Vaticano II, percebe-se uma intelecção diferente para o fenômeno da modernidade, substituindo-se a interpretação de conceito puramente ideológico, como se concebeu pela tradição anti modernista, para uma consideração do mesmo como processo puramente histórico.
Por um lado a modernidade representa o desenvolvimento dos potenciais humanos, e por outro lado, contradições que vitimam a sociedade. É o estigma que a modernidade carrega consigo e que se reflete nas relações de convivência, tanto nas macro relações (Igreja X Modernidade), como nas micro relações (homem X homem). Entretanto, não seria pertinente colocar em xeque esse jogo de palavras, atribuindo e elevando a relação de convivência humana ao nível de macro relações?

Inegavelmente, a modernidade introduz o homem no isolamento e no subjetivismo, e desde esse último, ao secularismo. E aqui está o temor (ou a preocupação??) da Mãe Igreja. Faz-se pertinente também realçar que o secularismo é uma realidade bem mais voltada para com a instituição, de maneira que não faz menção ao fenômeno religioso propriamente dito. Não estamos para julgar, tampouco para disseminar suspeitas. Estamos para refletir e se possível agir, a exemplo de João XXIII, que pretendia em caráter pastoralista, aprofundar e estreitar os laços do diálogo.
Como dissemos acima, a suspeita e a especulação incomodam a Igreja, sobretudo quando tangem ao Depositum Fidei e a sacralidade da Sé, realidades essas secundárias ao transcendente antropológico religioso. O pluralismo das experiências religiosas e culturais são expressões típicas e legítimas da sociedade moderna. O que de fato preocupa é aquela antiga mania de se pretender a universalidade do cristianismo. Ambas vertentes possuem suas limitações, seus acertos e desacertos, assim como também ambas mantêm sua prepotência. Poderíamos nos apropriar do velho ditado: “Dois bicudos não se beijam”; contudo no pontificado de João Paulo II contemplamos uma frágua de luz para com a tentativa de compreensão mútua e aproximação entre essas duas matrizes. Refiro-me à quebra de paradigmas realizada no pontificado de João Paulo II.
Estendendo um pouco mais essa reflexão, entendemos que o futuro do cristianismo e da mensagem cristã parece não estar ameaçado pelas debilidades e traições da instituição em si, senão por sua incapacidade de informar o espírito da sua mensagem às mentes e corações contemporâneos. De alguma forma, o que inquieta e incomoda é a impressão de que a mensagem de Cristo já não nos alcança, e que mediante tal circunstância, a Igreja se posiciona de maneira ainda mais obsoleta. Que medo absurdo é esse? É tão difícil para todos nós acreditarmos que a modernidade não poderá clonar, abortar, hackear, atomizar a experiência religiosa...

Em verdade, arriscamos acreditar que a modernidade pode sim ajudar o cristianismo a desvelar suas virtudes ocultas ou outras, paralisadas. Da mesma maneira acreditamos também que a modernidade muito pode contribuir para com a difusão do espírito de Jesus Cristo. Uma verdade que se fez reconhecer em inícios do século, durante a Conferência Nacional dos Bispos em Aparecida / 2007. No número 485 do documento, percebe-se a transparente associação da Igreja aos benefícios oferecidos pela modernidade enquanto instrumento evangelizador.
“Nosso século tem sido influenciado pelos meios de comunicação social [...]”. “Colocados a serviço do Evangelho, eles oferecem a possibilidade de difundir quase sem limites o campo de audição da Palavra de Deus, fazendo chegar a Boa Nova a milhões de pessoas. A Igreja se sentiria culpada diante de Deus se não empregasse esses poderosos meios, que a inteligência humana aperfeiçoa cada vez mais. Com eles, a Igreja ‘proclama a partir dos telhados’ (cf. Mt 10,27; Lc 12,3) a mensagem de que é depositária. Neles, encontra uma versão moderna e eficaz do ‘púlpito’. Graças a eles, pode falar às multidões”.

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